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As catedrais que podem ser as nossas vidas


As pessoas falam em «defender a civilização» como se ela fosse algo que estivesse nas catedrais da Europa. A ideia de que a civilização está aqui, na tentativa de escrever bem, de preparar um bom café para os outros, de servir bem... Essa ideia parece estar a um oceano de distância.


Mas digo aqui, no Brasil, na Antártida, em qualquer lugar do mundo. Sei que, ao comparar os caixotes de concreto em que moramos com a catedral de Notre-Dame de Paris e com os prédios em volta, surge tentação de acreditar que sim, a civilização é mesmo algo que está lá longe, nas catedrais da Europa.


Pura ilusão. A civilização é algo que está no homem. A liberdade é algo que está no homem. Os prédios podem ser destruídos e reconstruídos. A decisão livre de fazer sempre o melhor, ou apenas porque sim, ou para dar aos outros o melhor, permanece com cada um.


Isso não é uma frase de efeito motivacional. O que Viktor Frankl mostrou foi que, na pior das circunstâncias, ainda existe a possibilidade de escolher sua atitude. Se Frankl pôde agir da melhor maneira num campo de concentração, não podemos agir da melhor maneira diante... de prédios feios e da cultura de massas?


Sei que é difícil. «Como é difícil, quando tudo cai, não cair também!», nos versos de Antonio Machado. E talvez seja por causa dessa dificuldade que às vezes precisemos recordar os ideais. Um bom texto precisa ser também a civilização. Um bom café também é a civilização. Uma sala bem varrida também é a civilização.


Nem mesmo estamos sós nisso. Os próprios pedreiros que construíram as catedrais medievais nunca foram apenas pedreiros. Foram construtores de catedrais.


Com a ressalva de que nossas próprias vidas podem ser catedrais.


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Publicação original:



Via André Maria

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