Para o boxeador Jim J. Braddock, valia tudo.
Em 1926, Braddock despontou como um dos maiores sucessos do boxe, com 44 vitórias em três anos, o que lhe rendeu a chance de disputar o mundial contra Tommy Loughran, em 1929.
Então, o pior aconteceu: ele quebrou a mão direita na luta e foi derrotado.
Numa espécie de conjunção cósmica, a carreira de Jim caiu em desgraça ao mesmo tempo em que os EUA entravam na grande crise econômica de 1929.
Desempregado e falido, com dois filhos para criar, tudo desmoronou e as contas começaram a acumular-se.
Sem poder pagar o aluguel, Jim, Mae (sua esposa) e os filhos foram despejados e tiveram de ir morar num quartinho subterrâneo na periferia de Nova York.
Para comer, ele precisou fazer bico como estivador (aqueles empregados que recebem cargas dos navios). Mas era incerto: todos os dias, ele caminhava por 5 quilômetros até o porto e disputava uma chance, sem saber se seria chamado.
Não estava nada fácil.
Deprimido, passou a sentir-se menos homem e Mae receou que ele fizesse uma loucura.
Quando a energia foi cortada e a entrega do leite foi suspensa, Braddock pediu esmola aos antigos patrões do boxe e utilizou, pela primeira vez, o auxílio emergencial do governo.
As crianças precisavam de calor e de leite, afinal — e agora a terceira estava a caminho, uma menina.
Então, uma proposta: "que tal uma luta?" Na verdade, ele estava sendo chamado apenas para cumprir tabela e perder contra John Corn Griffin.
Mas o trabalho no porto fortaleceu sua mão esquerda e o inesperado aconteceu: Jim venceu.
"Hm, que tal outra luta?" E venceu outra vez.
E outra.
E outra.
Tão inexplicável quanto caiu, Jim estava ressurgindo das cinzas, até que, inacreditavelmente, ele venceu o gigantesco Max Baer em 1935 e ganhou o título mundial.
Um símbolo para a crise, foi apelidado de "Cinderella Man", porque saiu da pobreza extrema e virou o jogo.
Quando perguntaram o que lhe motivou, ele respondeu: "Leite para os meus filhos".
Em um mundo no qual a família é tratada como obstáculo para o sucesso, talvez a história de Jim J. Braddock possa nos relembrar o que realmente importa: "leite".
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