Nesse mundo em que vivemos existem pessoas que funcionam em diferentes velocidades. Tem uma turma que está sempre efervescendo, quicando entre palestras de dinamismo de vendas a outras de preenchimento do vazio existencial com Feng Chuí, almofadas ou mesmo felinos.
Essa turma funciona à toda velocidade, impulsionada sempre pelo medo. Medo de perder aquela onda, aquele barco, sempre p último, sempre o definitivo, e ser condenado a ficar sozinho num cais inexistente olhando a felicidade de seus pseudo-amigos que amanhã irão ridicularizá-lo naquele evento corporativo de auto-congratulação.
A futilidade é extremamente veloz, na velocidade da sua própria fragilidade, da sua tremenda falsidade, da sua irrelevância.
Sempre com pressa, não se pode jamais ponderar nada. Afinal, ponderar para que, se o mago do marketing já sinalizou o que deve ser aceito? Se aquele célebre ninguém já aprovou, ele igualmente célere em aparecer o mais que puder, quem sabe até esticando seus imerecidos dez minutos de fama?
A brevíssima vitória sobre a forçosa impermanência já gera frutos tremendos. Figuras como a tatuadora de traseiro já são consideradas geniais, verdadeiras estrategistas do marketing, alavancando carreiras sem nem sequer uma molécula de valor além da conformidade total às ondas da vez. E tem sempre outra onda, num frenesi de aderência capaz de efetivamente destruir qualquer resquício de senso crítico, de senso estético e finalmente de senso moral.
É a velocidade vertiginosa rumo ao abismo onde se empilham rolexes, porsches e iates. Entre um casco de navio e uma roda de liga leve é possível, vez por outra, entrever um braço marcado por picadas ou um pescoço ralado pela corda que promete dar fim ao desespero de uma alma vazia e furada, à qual nenhum alimento é capaz de nutrir.
No vórtice da tremenda energia desprendida por esses bólidos da veemência vazia muitos são sugados, arrastados num turbilhão que sequer conheciam. E a pilha aumenta no fundo do abismo.
Mas longe dessa auto-estrada de horrores existe outra velocidade. Uma velocidade que torna impossível o embarque no trem-bala da moda. Uma velocidade que pondera se o ovo pode mesmo ter se tornado um vilão, relembrando dos deliciosos bolos da tarde servidos na casa da vovó, cheios de ovos e cheios de amor, de alegria e do mais consistente dos sentimentos.
Poderia um ingrediente de tão divina obra ser de fato um vilão, um entupidor de veias, um matador de incautos? O trem-bala lá longe parece dizer que sim. A pessoa nessa velocidade aqui precisa de mais que um slogan para desistir das receitas da vovó. E enquanto pondera o foguete da inconstância já declara que o ovo é top, numa vitória, certamente fugaz, do lobby das granjas avícolas.
A pessoa calma dá de ombros, rindo da ridícula estupidez dos acelerados. E chama seus netos para que desacelerem e tratem de comer o bolinho enquanto ouvem histórias mágicas de um tempo que não volta mais.
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